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Nade e nada mais!

Acredite em você. Se você encontrar o sentido por trás daquilo, você consegue alcançá-lo. Trago essa premissa com um pouco de receio de cair em mais um texto de autoajuda que a gente encontra na internet. Mas, depois de anos inserida no mundo dos esportes por meus pais, esse foi meu maior aprendizado quando assumi um compromisso comigo mesmo.


Não aprendi a nadar ano passado. Mas, foi quando decidi mergulhar fundo na piscina e, principalmente, em mim. Já tinha treinado com os treinadores do clube, e, logo quando o ano virou procurei eles. Minha ideia era voltar aos poucos, na escolinha, e quando me sentisse apta para treinar com os "fortes", iniciaria na equipe.


"Fala Rick! Vou chegar aí viu? Voltei a nadar de noite. Quando ficar "barril" vou chegar na turma. Tô na onda. Vou fazer a "mar grande" esse ano.


"Vai mesmo???"


"Vou".


"Então venha treinar amanhã, 6AM. Você nunca vai se sentir pronta e nunca vai vim".


A conversa foi rápida e direta. Mas foi certeira para passar o dia no dilema interno "vou ou não vou?" Desde que senti a emoção da chegada de meu dindo, não tive dúvidas que eu queria passar por aquilo mas sofria com um complexo que me paralisou em vários aspectos da minha vida: se não fosse para começar sendo boa, era melhor nem começar.


Só que dessa vez foi diferente. Eu sabia que depois de anos sem nadar, meses sem fazer uma atividade física e 20kg a mais, eu não poderia esperar nadar igual a equipe do clube. A solução era fácil: ou eu quebrava esse padrão e começava a fazer a "travessia" ou deixaria esse sonho no imaginário.


Não deu outra. No outro dia, 6AM eu estava pronta na borda da piscina para começar minha história. Lembro que nos primeiros treinos, enquanto meus colegas chegavam na borda conversando, eu chegava "botando os bofes pra fora". Cada dia que passava, eu me divertia e admirava mais ainda meus amigos "coroas" de natação. Não tinha nada que fizesse colocar "só mais 5 min" de soneca do despertador. Céu escuro, inverno de Salvador, insônia, aniversário de amiga.. não encontrei nenhum motivo para deixar de mergulhar nas águas geladas e acordar para minha vida.


Não me tornei a melhor da turma e até hoje meus colegas me dão vários "capotes" no treino. Mas estou infinitamente melhor do que quando voltei.


E, nessa história toda, sabe quais foram meus maiores aprendizados?


  1. Você quer? Vá! Tudo depende de você. Treine, treine e depois, quando achar que já está bom, treine mais um pouco. E, assim, venho levando isso pra vida: tenha bem claro aonde você quer chegar e comece a trabalhar atrás do seu objetivo. Independente das circunstâncias, comece. O caminho não é fácil, e se você não passar um dia se questionando se está no caminho certo, com certeza, você está fazendo algo errado. Até hoje, quando o treino é muito difícil, eu me pego pensando "meu deus do céu, porque eu to fazendo isso comigo?", mas não tem felicidade maior em tocar nos pórticos de chegada das competições e da vida.

  2. Nada melhor do que mergulhar em você mesmo. Sem dúvidas, encontrei na natação uma forma de terapia. Acordo todo dia e vou até o clube com o som do carro no máximo. Brinco com qualquer pessoa que aparecer na minha frente e aos poucos, vou desacelerando. Tiro o material da mochila, coloco a touca, óculos e nas primeiras braçadas, a oportunidade de me conectar comigo. Sem música. Sem olhar para borda e toda a minha energia voltada para meus pensamentos. E, é dessa forma que, aos poucos, eu vou entendendo determinadas situações e decidindo como vou resolvê-las. No fim, é uma forma de trabalhar uma das inteligências mais importantes e quase nunca desenvolvidas: a emocional.

  3. Sozinho você pode até começar mas só chega lá, se for em equipe. A natação talvez seja um dos esportes mais solitários, só que não quer dizer que você está sozinho. Além do seu treinador, seus colegas de raia vão te puxar para ir além, e também vão deixar todo o processo mais leve. Faço parte da equipe master. Ou seja, eu, com 25 anos, tenho a oportunidade de conviver diariamente com pessoas de +40 e que em sua maioria, começaram a nadar quando ainda eram crianças.


O que eu ganho com isso?


Experiência de vida.

Me lembro da minha primeira competição de maratona aquática, o nervosismo de uma competição, aumentado por ser a primeira vez e misturado com o medo de nadar "sozinha" no mar. Quando cheguei, fui recebida na areia pelos "grandes" desistindo da prova. O mar não estava para brincadeira e não deu outra. Entrei para a prova mas desisti na primeira volta. Quando voltei, encontrei com meu "primo" - um grande amigo de natação que de primo não tem nada - Não lembro o que ele falou mas lembro que depois de ouvir tudo, aumentei minha bagagem de ensinamentos: jamais desistir.


Comecei nadando falando que ia ser pódio. Não porque eu já me achava a melhor, mas, por exclusão: não nadava com ninguém da minha categoria. Até entender que, na verdade, as pessoas da minha categoria eram os atletas de alta performance. Aceitei que o 1º lugar ainda era um sonho distante e foquei em apenas atravessar.


Fui evoluindo dia após dia e quando eu menos esperei, chegou o grande dia: 19/12/2021. Saindo do raciocínio que atravessar é sair de um ponto e ir para outro, larguei para a "Mar Grande - Salvador" já atravessada e campeã. Já não era mais aquela menina que começou a nadar e pouco acreditava nela. Larguei uma mulher. Amadurecida. Confiante em mim e em toda minha trajetória durante o ano.


Quando atravessei e toquei no pórtico de chegada, não deu outra: OURO!




Costumo dizer que o dia da Mar Grande foi o melhor dia da minha vida. E, depois de entender qual é a sensação e significado de fazer travessias, eu não quero parar. Ano passado, as braçadas foram focadas em um projeto pessoal. Esse ano, já comecei uma nova travessia mas dessa vez, profissional:


LUTZ!


Chegou a hora de trazer para o profissional todos os aprendizados que a natação me trouxe ano passado, somar com os novos e direcionar as braçadas para um novo sonho compartilhado: contribuir para a educação dos jovens da cidade onde eu nasci.


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