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É pênalti


Casa cheia. Véspera do jogo Brasil e Costa Rica. Dois primos que não via faz tempo, um tio que desde pequena é minha referência de empreendedor e uma tia médica, que toda vez que me vê, faz questão de lembrar que foi dela o diagnóstico certeiro do meu refluxo aos meus três anos de idade.

Cenário ideal para cerveja, amigos, família, Brasil e churrasco. Colocar o papo em dia é uma obrigação em eventos como esse e antes do jogo começar driblei minha tia médica que contaria a mesma história para um bate bola rápido com tio Kinho. Ele começou alinhando as expectativas para o jogo e logo me perguntou: “Neymar faz gol ou não faz?”. Meus olhos e 23 anos de pura esperança entregam a fé: “Faz... Brasil vai ser hexa!”. Minha resposta foi tão sincera que ele não queria deixar a conversa morrer e já emendou outra pergunta: “E como estão as coisas no trabalho? Queria entender o que você anda fazendo."

Essa pergunta, para quem trabalha com marketing digital, é um tanto quanto desafiadora. Para o senso comum, só existem duas formas de um publicitário trabalhar: ou com comercial de tv ou fazendo outdoor. E se você não trabalha com isso, o máximo que vai ganhar é um sorriso amarelo. Eu precisava responder tio Kinho com a mesma empolgação que eu tive ao falar de Neymar, já que pra mim, trabalhar é como disputar um jogo de copa do mundo todo santo dia. Você vai ter um time orientado por um Tite que no meu caso se chama João. Vai ter que dar o seu melhor em cada jogo. Vai ter chutar muita bola na trave, fazer muita jogada que será marcada impedimento - e sem direito a árbitro de vídeo - e jamais desistir! Afinal, é no contra ataque que geralmente acontece o gol. No final das contas você vai transpirar muito mais do que subir ao pódio.

Explicar meu trabalho é como bater pênalti. Precisa ser certeiro, simples e direto. Expliquei olhando no olho de tio Kinho que trabalhava com investimento. Rapidamente, puxei uma nota de cinquenta reais e perguntei: “Está vendo esse dinheiro? Eu e meu time discutimos e avaliamos o melhor lugar de alocar essa quantia. Traçamos um plano e comunicamos no lugar certo, na hora certa e com a mensagem que seu cliente quer e tem vontade de ouvir. Quando encontramos seu cliente, meu time já preparou diversas formas de criar uma ponte entre você e ele. Ai essa nota virou um investimento pra você transformar oportunidades em vendas.”

Marketing não é sobre termos em inglês e metodologias específicas. É sobre resolver problemas da forma mais dinâmica e simples possível. É linguagem feita de gente para ser sentida por gente. É transformar dados com a capacidade humana de fazer sentir.

Poderia ter explicado para tio Kinho que trabalho o dia inteiro fazendo análise de dados dentro de um dashboard automatizado. Que sou especialista em inbound marketing e que minha equipe trabalha com conceitos de growth hacking. Poderia ter falado que trabalho sobre métricas, KPI’s, taxas de retenção, que clientes são leads e todo o tipo de termo técnico. Mas aquele pênalti, eu não precisava mostrar conhecimento técnico, eu precisei transmitir paixão.

Tio Kinho entendeu. Na verdade, tio Kinho sentiu a vontade que eu estava de deixar o mais simples e claro possível. Ele complementou e disse que tinha medo de investir no digital porque até então e que não sentia como um investimento e sim como gasto. Depois do meu chute, deu um gole na cerveja e se virou pra tv. Mas antes de se concentrar no jogo que estava começando ele deixou as perguntas de lado e me fez uma afirmação: “Me manda um e-mail que na segunda quero sentar com você pra falar sobre investimentos”.

Brasil 2x0 Costa Rica, dois últimos gols no finalzinho do segundo tempo. Segunda-feira, a secretaria de tio Kinho já estava negociando agenda comigo. Agora era hora de passar a bola para o comercial, mas com jogada ensaiada, um bom técnico e um time favorito fica difícil de acreditar que não vai ser gol.

E você, sabe me dizer quantos pênaltis bate por dia?




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